Essa
família tem peculiaridades fenomenais: a asa-branca tem um dos mais formosos voos dentre as aves; arribaçã
produz belos espetáculos com gigantescos bandos em voos rápidos e extensos. Eu
já vi uma tentativa frustrada de um gavião em capturar uma arribaçã em voo, ela foi mais veloz.
Esse mesmo gavião tem experiência em pegar rolinha e pombo doméstico usando essa
tática. A rolinha-fogo-pagou canta uma perfeita onomatopeia que lhe concede o
nome e voando emite com o bater das asas, o som do chocalho da cobra cascavel que lhe dá o outro nome; a
rolinha-branca tem o canto mais bonito da família em que a suavidade primorosa
faz bem aos ouvidos; a juriti além do seu bucólico e belo gemido também emite
com as asas um metálico som de um guiso quando alça voo. Admiro ainda o voo da
juriti, tão silencioso dentro da mata e, se houvesse um concurso para premiar a
ave que alcançasse maior velocidade em cinco segundos, sem nenhuma dúvida ela
seria a campeã. A carne da juriti não possui o leve ranço que têm as pombas e a
arribaçã; por isso a carne da juriti é a mais apreciada dos columbídeos. A
rolinha-azul tem um dimorfismo sexual em que o macho é cinza-azulado e a fêmea
é avermelhada, formando um casal de belezas iguais, diferentemente de
dimorfismo sexual apresentado na maioria das outras aves em que a fêmea quase
sempre tem plumagem apagada.
Conheço
na Caatinga seis espécies de rolinhas: a branca, a fogo-pagou, a azul, a
caldo-de-feijão, a cafofa e a cinzenta. Com Exceção da azul, as outras são comuns, embora a
fogo-pagou já tenha desaparecido em muitas áreas dessa região. Constatei isso
num périplo que fiz no ano de 2001 na caatinga dos estados de Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. A caldo-de-feijão e a cafofa ainda são
abundantes, acho que devido serem mais terrícolas e se adaptaram bem às
pastagens, que são bons lugares para esconderem-se e fugir do seu maior
predador que é o homem. Outro fator importante é que a rolinha-caldo-de-feijão
consegue ficar afastadas de habitações humanas, enquanto as rolinhas fogo-pagou
e branca gostam de terrenos limpos e ficam rodeando as habitações humanas. A fogo-pagou e a branca não frequentam como a cafofa e a caldo-de-feijão pastos com
capim alto e denso. A caça contribuiu para o desaparecimento da fogo-pagou em muitas áreas da Caatinga, soma-se também ao mau costume de
crianças sem nenhuma experiência, que com a ajuda irresponsável de adultos,
capturam-nas ainda no ninho para criá-la em cativeiro. A maioria morre
empapada, mal acarretado pela alimentação imprópria. Eu avistei apenas a
rolinha-azul fêmea camuflada junto a bandos de caldo-de-feijão, mas, com um
olhar mais detalhado a sua cor se evidencia; imagino que o macho é mais arisco
porque sempre foi muito perseguido pelos humanos.
Aqui
no DF não ocorrem a rolinha-branca e a
cafofa, acho que devido à
altitude, porém tem uma endêmica e rara: a rolinha-do-planalto. Tenho acompanhado um espécime macho de rolinha-do-planalto que apareceu no
campus da UNB, precisamente no Centro Olímpico. Assim como a famosa ararinha
azul, com apenas um espécime na natureza,
na falta de par da mesma espécie acasalou com uma maracanã, a rolinha-do-planalto corteja uma
rolinha caldo de feijão.
Também
no DF não ocorre rolinha-azul, porém temos outro columbídeo azul chamado de
pomba-de-espelho. Eu mesmo já matei algumas na Ponte Alta. O habitat dela no DF
são as matas estreitas de pequenos córregos onde nasce taboca. A semente da
taboca é importante no seu cardápio. Como a espécie é camuflada e arredia, não
a tenho avistado, mas é quase certo que ainda exista aqui.
fotos Geraldo Nunes
rolinha-fogo-pagou
rolinha-fogo-pagou
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