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sábado, 1 de agosto de 2015

SAPUCAIA: FRAGMENTO DO MEU LIVRO "FLORES, FRUTAS ...



Ao passar no canteiro frontal à SQN 111, avistei uma grande sapucaia sob a guarda de uma colmeia de arapuá instalada na planta. Esse fruto é bastante cobiçado e bem antes de maduro são retirados apenas para aproveitar a cumbuca. Sei que o momento é inoportuno, porém resolvi subir para colher o coco que contém castanhas macias e saborosas e apresentá-lo a Antônio e Ellen. Miguel já me disse que não vale a pena   escalar  um sapucaizeiro de brincadeira, o perigo está na sua áspera casca que corta como uma navalha e se acaso uma pessoa escorregar de barriga pelo seu fuste ou um galho grosso vai ficar com as tripas de fora. Eu considero essa árvore uma das mais bonitas plantadas no Plano Piloto-DF. Sua safra é de agosto a outubro. O fruto maduro coincide quando a árvore tem perdido todas as folhas. Em setembro, vemos as diferentes fisionomias do seu ciclo anual, uns exemplares ainda tem a folhagem antiga, outros estão desfolhados e alguns já têm flores e folhas jovens nascidas ao mesmo tempo. São bonitas flores violáceas, porém essa beleza é apagada pelo vermelho brilhoso das folhas novas e é nesse momento em que a árvore está no auge de sua extraordinária formosura. Miguel chegou com a filmadora. Mostrei a ele o plano para colher o fruto e pedi-lhe para filmar a tarefa. Subi e rapidamente e peguei o coco. Um homem encontra enorme dificuldade para conseguir colher o coco do sapucaizeiro usando somente as mãos. Sem um objeto cortante o esforço é hercúleo. (Uns dias passados um homem tentava derrubar o coco da sapucaia arremessando um porrete de madeira. Observei Miguel pegar outro porrete, imitar o homem e dizer “dessa vez você quase acertou” e deixou-o na sua tentativa. Eu disse “porra! Tu sabes que ele nunca vai derrubar. Qual é a tua”? E ele me respondeu: “quero lhe impor um trauma para que ele nunca mais use porretes para derrubar frutas e assim eliminar um concorrente mal educado; se fosse em um pé de manga ele estragaria dezenas para derrubar a fruta mirada”).  O arapuá me atacou numa proporção maior do que imaginei, e, mesmo não possuindo ferrão ela incomoda enrolando-se no cabelo e penetrando no ouvido; e para evitar isso é preciso ficar dando tapas na orelha. Acossado pelas abelhas, achei mais conveniente descer utilizando um galho como paraquedas de uma altura de onze metros. O sapucaizeiro é ideal para esse tipo de operação devido ao formato de sua copa e resistência da sua madeira, que enverga, pode até rachar, mas não se rompe.
Miguel prevendo a minha peraltice gritou à moda cigana:
– Cachorro da moléstia! Cancão de fogo! Estás com o cão nos couros?
Tive uma suave descida e lhe disse:
          – Eu gosto de me amostrar. 







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