Plantaram no Eixo Rodoviário Norte muitos
jenipapeiros da variedade que produz o ano todo. Sempre encontramos frutos
maduros. No quesito sabor é inferior aos plantados ou nativos situados em
terrenos de mata ciliar na região do Cerrado, ou do Litoral e da Caatinga
nordestina. A carga é abundante, já contei em um pé mais de quatrocentos
frutos. Mais de vinte por cento são de pés estéreis que chamamos de machos. Esses machos geram uma flor mais vistosa que os pés que produzem
frutos. Temos a nítida impressão que os machos
se acham mais bonitos e se apresentam vaidosos. Não aprecio jenipapo in natura, porém depois que soube que um médico receitou-o para
fortalecer o sistema imunológico de uma paciente com câncer em tratamento
quimioterápico, venho beliscando alguns frutos. Experimentava o fruto de cada
pé, assim descobri dois espécimes que produzem frutos mais saborosos. Estamos
consumindo-o também em forma de suco, doce e o famoso licor. O suco e o doce de
jenipapo, embora não sejam intragáveis, achei-os muito inferiores aos feitos de
frutas tradicionais como o doce de goiaba e o suco de manga. Já o licor é
excelente. Eu fazia com açúcar, porém estou seguindo a receita de Miguel que
não leva doce. Se quisermos um sabor mais adocicado preparamos com casca, se
menos doce fazemos sem a casca. O preparo é simples: lavo os jenipapos maduros em água corrente,
passo-os por uma rápida fervura, depois de escorridos encho quatro quintos de
um pote de vidro de boca larga e completo com cachaça de boa qualidade e após
um ano de descanso é coado de preferência em um pano e está pronto para se
beber. Ultimamente é a única bebida alcoólica que tenho ingerido. Estou
vendendo em meu restaurante uma produção que Miguel tinha preparado antes do
início do nosso relacionamento. Ele usou aguardente proveniente da região de
Salinas (MG) e os custos foram altos. O preço que estou praticando muita gente
reclama. Quando o freguês acha caro, eu digo em tom de brincadeira: “meu amigo!
Você pode achar o preço alto, mas eu não faço esforço para vender, pois torço
para sobrar tudo para que eu mesmo beba.” Miguel tomou até final do ano passado
antidepressivos que tinham como efeitos colaterais a inapetência sexual e agora
diz que está em forma graças ao consumo de jenipapo. Eu confirmo. Porém tenho
minhas dúvidas se essa minha boa disposição para atividades amorosas é apenas
devido às mulheres maravilhosas com quem estou andando. Miguel cita mais
três propriedades interessantes do
versátil jenipapo: primeira: em local arejado, a fruta fica em estágio de
passas naturalmente, que além de ficar mais saboroso, torna-se uma boa opção de
alimentação em excursões rústicas no mato; segunda: processado com pouca água
em liquidificador, o jenipapo não passa em peneira, ao que pareces suas
moléculas não se descolam uma das outras; terceira: fornece tinta usada por
índios para pintura corporal e que pode ter outras utilidades.
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